José Salomão Schwartzman se formou em Medicina na Escola Paulista de Medicina – hoje Universidade Federal de São Paulo em 1962. Fez estágios em Neuropdiatria no The National Queen Square e cursos de especialização no The Park Hospital for Children, em Londres, Inglaterra, nos anos de 1968 e 1969. Em 1987, tornou-se Doutor em Medicina – Neurologia também na Escola Paulista de Medicina (Unifesp). Exerce prática clínica privada em Neurologia da Infância e Adolescência há 60 anos. Exerceu atividades didáticas e acadêmicas na Escola Paulista de Medicina (Unifesp), na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na Faculdade de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e na Universidade Presbiteriana Mackenzie ao longo de mais de três décadas, onde foi Professor Titular do Programa de Pós-graduação em Distúrbios do Desenvolvimento. 

Mais do que sei e posso, é o que NÃO SEI e NÃO POSSO!

     Ainda percebo, depois de mais de 50 anos de atuação na clínica neuropediátrica, que nós que, por força de nossas especialidades, trabalhamos com pacientes com condições neuropsiquiátricas crônicas nos perguntamos, com frequência, por que são poucos os profissionais da área da saúde que demonstram o que parece ser, à primeira vista, tão pouco interesse e mesmo curiosidade com relação à essas condições. 


     Os congressos, eventos, palestras e publicações que tratam dessas condições não conseguem atrair, na sua maioria, número significativo de médicos. Mesmo médicos que lidam, fundamentalmente, com a criança em desenvolvimento e que deveriam ter um profundo conhecimento a respeito das desordens que podem interferir com esse desenvolvimento não frequentam, habitualmente, esses encontros tão importantes que promovem conhecimentos para diagnósticos precoces, intervenções igualmente precoces, suporte às famílias e, mais importante, políticas públicas para o atendimento a essa população.


     Quando esses fatos são discutidos com professores universitários, com frequência, culpam-se os currículos das faculdades de medicina que seriam ou totalmente omissos ou, pelo menos, muito carentes com relação ao ensino do desenvolvimento normal e das condições que podem levar a desvios mais ou menos severos desse desenvolvimento.


Na verdade, nos parece que a causa do problema é outro, e possivelmente uma das causas desse aparente desinteresse dos médicos se deva ao fato de que o atendimento a pessoas com prejuízos crônicos, incuráveis e, não raramente, progressivos pressupõe uma atitude do profissional que difere muito daquela que é muito intimamente ligada ao exercício da medicina, qual seja, a de que cabe ao médico CURAR seu paciente, fazendo que a DOENÇA seja vencida, debelada e erradicada a qualquer custo.


     Essa atitude está tão profundamente arraigada em nossa profissão que o insucesso frente a uma doença (morte do paciente ou um quadro que parece não responder ao esquema de tratamento proposto) traz para o profissional uma sensação de dever não cumprido e de possível falha pessoal.


     Cuidar de pessoas que apresentam prejuízos severos, incuráveis e crônicos exige dos profissionais uma atitude diferente, qual seja a de saber seus limites, a de poder lidar com o “NÃO SEI” e o “NÃO POSSO”, que estão diuturnamente presentes quando estamos à frente desses pacientes e de seus familiares e/ou responsáveis. A causa dos problemas, muitas vezes, não pode ser identificada, o prognóstico frequentemente não pode ser estabelecido com certeza, e a resposta aos tratamentos propostos não pode ser prevista com segurança, menos ainda a sua duração e os custos necessários.


     Frente a certas patologias, devemos nos satisfazer com melhoras discretas, lentas e difíceis, mas que podem fazer uma diferença bastante significativa para os pacientes e suas famílias. Em outras condições somente nos caberá promover a melhora da qualidade de vida possível dentro do quadro apresentado por nosso paciente.


     Talvez seja a dificuldade em lidar com esses aspectos interiores que são mobilizados frente a esses pacientes a responsável pelo distanciamento desses profissionais desses quadros clínicos incuráveis, mas absolutamente tratáveis, nas proporções devidas, e dignos da total atenção médica, para que diagnóstico e intervenção sejam feitos o mais precocemente possível!


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